Who's
back? Travessia Lamas de Orelhão - Vila Pouca de Aguiar - 19 de
outubro de 2014
Quem
tivesse lido a nossa última crónica/relato, facilmente depreenderia
que ficámos com um “amargo de boca” e uma vontade enorme
em completar o percurso do Who’s Afraid, especialmente o segundo
dia, que ligava Mirandela a Pedras Salgadas. Só não o fizemos
porque outros compromissos não o permitiram.
Durante a semana, nas nossas viagens para o local de trabalho, costumamos
combinar os passeios do sábado seguinte e claro, teria de ser esse,
ou seja, o segundo dia do Who’s porque a coisa ainda estava fresquinha...
Para não começar em Mirandela, decidimos fazê-lo em
Lamas de Orelhão, uns kms antes porque eu não conhecia a
chegada a Mirandela. Demos uma “espreitadela” no GE(Google
Earth) para ver qual seria o melhor trajeto até intercetar o percurso.
Às 7h30m da manhã lá saímos, com o nosso pai,
mais uma vez, a aturar-nos a doidice… deixou-nos em Lamas de Orelhão
logo à saída a A4 e lá fomos nós para o trilho.
Maravilha! Trilhos rolantes tendencialmente a descer pelo meio de grandes
campos de oliveiras, o Zé logo começou por fazer as primeiras
das muitas fotos da jornada, enquanto eu, tentava manter a câmara
mais ou menos estável no cocuruto do capacete.
Pelo caminho, e já em parte do trilho do dia 1 do Who’s,
o Zé foi-me dizendo que havia mais água e lama que na semana
anterior. Era previsível por causa a pluviosidade que assolou a
região durante a semana. Quando chegámos ao rio Tua, percebemos
pela cor barrenta e pela quantidade de água que o mesmo levava,
que tinha chovido muito…portanto, esperava-nos um terreno mais pesado….
Desde aí até Mirandela foi um ápice.
Já depois da cidade seguimos em direção a Rio Torto
onde fizemos a primeira paragem do dia. Uma ponte romana em muito bom
estado despertou-nos a atenção, afinal é mais uma
para a coleção que vamos fazendo.
Ali
mesmo, estava uma senhora que se ocupou simpaticamente de nos explicar
que aquela localidade se chamava Rio Torto e que tinha uma série
de bairros distantes de tal forma uns dos outros que mais pareciam outras
localidades mas que era a mesma povoação.
Conversa e mais conversa com um outro senhor que estava sentado no muro
da ponte, o Zé apreciou e foi fotografando uns passaritos fora
do vulgar que por ali andavam nas margens do afluente do Rabaçal,
enquanto eu me ocupava de partilhar qualquer coisa para os amigos e abrir
o apetite aos amantes da modalidade.
Desde aí a próxima paragem seria a cidade de Valpaços
e eis que começam a aparecer algumas das dificuldades…as
subidas começavam a revelar-se.
Quando chegámos à cidade decidimos ir a uma pastelaria comer
alguma coisa, beber e encher os cantis e o camelback com água.
Fomos ao café contíguo ao estabelecimento comercial do nosso
amigo Luís que tencionávamos procurar. Por casualidade ele
estava com mais dois amigos na esplanada da pastelaria… sande mista
e uns minutos (uma boa meia hora) de conversa e lá fomos…Ao
sair da cidade vimos uma ornamentação muito interessante
da rua com guarda chuvas coloridos e frases presas aos mesmos em que o
tema era “Ser feliz é…” não lemos nenhumas
das frases que estavam dependuradas nos guarda chuvas mas só pensámos
para o momento que: Ser feliz é… poder passar ali de bicicleta!
Desde
Valpaços sabíamos perfeitamente que as coisas se iam começar
a complicar…teríamos de ir para a cota dos mil e poucos metros
e dali ainda era um pedaço…sabíamos também
que o Luís Martins não desenhara aquilo em subida constante,
logo vimos na subida de Vassal para o santuário de Stª Isabel…sobe…sobe….desce…
Logo à saída da localidade de Parada ou Paradela, não
quero precisar, uma matilha de mini cães decidiu importunar-nos
ladrando persistentemente irritando qualquer individuo, para mais quando
se vai a subir daquela forma com pendentes na ordem dos 20%…estava
a ver quando algum seria atropelado. Dizia uma senhora que ali estava
à beira do muro: “…Oh valha-vos Deus…”
por outras palavras, que maluquinhos…
Ficámos no que nos pareceu…ao que parece e ultimamente, muitos
têm sido os que nos dizem palavras com este tipo de alento…
Dali fomos subindo em direção a Pereiro e eis que no cimo
de uma das subidas por uma vinha paro e vejo por ali a esvoaçar
uma vespa asiática! Tive logo de lhe tratar da saúde…repare-se
onde já chegou esta praga! São enormes!
Chegados a Campo de Égua, despertou-nos a atenção
um burrito que pastava com a sua progenitora. Parámos para o fotografar
e aproveitámos para comer uma barrita. Enquanto por ali estávamos
aproxima-se de nós um senhor que nos diz que sábado passado
vira passar por ali dois colegas nossos também de bicicleta. O
Zé disse-lhe que passaram bem mais que dois mas ele só vira
dois. Por entre a conversa falou-nos num filho que estava em Andorra e
também andava de bicicleta. Perguntou-nos de onde vínhamos
e para onde íamos e, à boa maneira transmontana, não
foi necessário mais que 5 minutos de conversa para nos convidar
a beber um copo em casa. Fez questão! Lá lhe dissemos que
não podia ser, vinho naquele momento nem pensar… tanto insistiu
que lá fomos a casa. Abriu-nos as portas para nos mostrar o seu
museu e algumas peças de artesanato em madeira, granito e ferro/chapa
que vai construindo. No decorrer da conversa e porque o “mundo é
pequeno” já conhecia a nossa família materna que era
dali bem próximo (Carrazedo de Montenegro).
Entretanto, dissemos-lhe que iriamos colocar as fotos e vídeo na
internet e pediu-nos logo o endereço da página para que
o filho pudesse ver em Andorra…lá estivemos parados mais
uns bons 20 a 30 minutos até que, antes de sairmos fomos convidados
a voltar um dia. “Quando passarem por aqui, mesmo que tragam amigos
parem…!” Fantástico o Senhor Octávio Rua!
Obrigado
por esse momento…! É desta forma que encaramos este desporto;
parar, falar com as pessoas e aprender com elas. No interior do nosso
país há localidades de tal forma isoladas que as pessoas
têm mesmo necessidade em conhecer outro tipo de gente e dialogar
com elas, foi o que nos aconteceu neste dia por onde fomos passando.
Na segunda-feira de manhãzinha, antes de sair de casa, o Zé
recebe um email às 7h da manhã do filho do Sr. Octávio,
a dar conta que tinha visto a nossa página e, ao mesmo tempo a
mostrando interesse em pedalar connosco quando viesse cá de férias
de Andorra…
No regresso a casa em direção a Serapicos deparámo-nos
com uma série de castanheiros completamente fustigados pelas condições
climatéricas adversas, o Sr. Octávio já nos tinha
dito…todos queimados e sem castanhas. Este foi o momento triste
do dia pela envolvência escura das árvores e soutos…
Depois de Serapicos já só se pensava em alcançar
o alto da serra da Padrela para descer até ao vale que nos levaria
a Vila Pouca de Aguiar.
Antes de chegar ao alto da serra na encosta poente parámos porque
o vento soprava e trazia alguma chuva à mistura. O local, outrora,
deveria ser de culto, pelas escavações no rochedo e pelos
vasos feitos de pipas que ornamentavam o afloramento granítico.
Aí já olhava para o GPS e pedia que acabassem rápido
as subidas…faltavam duas!
O Zé seguia à frente a “cortar” o vento e eu
na roda dele, o rapaz está forte!
À medida que subíamos a nuvem fechava-nos o sol e começámos
a apanhar chuva…15/16 graus de temperatura no momento…não
estava frio mas muito vento com chuva…já tínhamos
apanhado temperaturas de 27ºC na região de Valpaços…
Que suspiro de alívio quando, no ponto mais alto do gráfico,
olhámos um para o outro e dissemos: “Já está!”
Faltavam uns 11/12 kms para acabar.
Na descida para Pedras Salgadas decidimos fazer uma variante ao track
por uns sigle-tracks nossos conhecidos.
Quando chego às Pedras Salgadas largo as mãos do guiador
e reparo numa instabilidade na bicicleta, trago o pneu da frente com pouquíssimo
ar…metemos ar nas bombas de gasolina e até Vila Pouca fizemos
a ciclovia…pelo caminho ainda parámos para saborear umas
uvas.
Em suma, 93kms de pura diversão ficando o registo para a posteridade.
Foi um dia marcante pelo que se passou; As surpresas, as pessoas, as paisagens,
os trilhos, o espírito da forma como “vivemos” o BTT.
*Aconselha-se
o visionamento do vídeo em HD
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